terça-feira, 13 de maio de 2014

TRAUMA

Como um acontecimento se transforma em trauma?

A maior parte das reações do organismo perante uma alteração do meio ambiente, mesmo aquelas que causam dor, mal-estar ou sofrimento, têm um princípio adaptativo de proteção e sobrevivência. Por exemplo, a tosse, o vômito e a dor são defesas do organismo: ajudam a expelir um material que se encontra numa via errada, ou um alimento nocivo, ou um corpo estranho como farpa, que poderiam prejudicar o organismo. A ansiedade é um estado emocional comum e provavelmente tenha sido selecionada como um importante fator para a preservação da espécie humana. O estado ansioso é definido como um comportamento de alterações físicas (taquicardia, sudorese, hiperventilação, aumento da pressão arterial) e psíquicas (apreensão, inquietude, alerta). Assim como já dor evoluiu para nos proteger de danos imediatos ou futuros, a ansiedade talvez tenha evoluído para nos proteger contra futuros perigos ou outros tipos de ameaças.
De fato a ansiedade pode variar em intensidade e expressão conforme a importância que se atribui ao risco iminente. Quanto mais ameaçador um evento, maior seria a intensidade de expressão da ansiedade. Como um sinalizador antecipatório de possíveis ameaças ou mesmo diante da ameaça, a ansiedade altera de forma vantajosa o pensamento, a fisiologia e o comportamento humano com ajustes para sobrevivência.
Nossos ancestrais provavelmente tenham antecipado riscos reais durante a caça e a vida diária, exercendo algum controle sobre a incidência de ameaças letais por intermediário da ansiedade. É possível que o superdimensionamento das ameaças tenha sido selecionado como recurso de preservação por estabelecer margens de segurança em relação a avaliação dos perigos reais. Apesar de a ansiedade estar com intensidade e duração exacerbadas, impedindo a continuidade equilibrada da vida. É o caso de boa parte das pessoas que sofreram traumas: um acontecimento se transforma em trauma quando o “sistema é sobrecarregado cronicamente.”

Como o trauma se apresenta?
As lembranças do trauma geralmente estão fragmentas em imagens, sons, odores, sensações físicas (náuseas, tonturas e outras) ou emoções (aversão, nojo, medo, pavor, raiva, tristeza) não integradas a outras memorias autobiográficas. Estímulos relacionados ao evento traumático, específicos e/ ou genéricos, podem reavivar as memórias que retornam muito mais fortes que uma simples recordação, com nitidez visual e forte expressão emocional, provocando a revivescência do evento traumático.
Eventos traumáticos podem afetar o funcionamento cognitivo, a saúde física e as relações interpessoais. A seguir, as reações mais frequentes (isoladas ou conjuntas) após o trauma.


·         Efeitos cognitivos
- Confusão Mental
- Desorientação temporal (cronológica).
- Dificuldade de concentração e de tomada de decisão
- Dificuldade de expressar pensamentos
- Estreitamento perceptual
- Incredulidade e descrença
- Pensamentos intrusivos (indesejados)
- Perturbações de memória.
- Pesadelos
- Preocupações exacerbadas

·         Efeitos emocionais
- Amortecimento e anestesiamento
- Ansiedade
- Apreensão
- Culpa
- Desamparo
- Desesperança
- Desespero
- Irritabilidade
- Negação
- Pânico
- Raiva
- Tristeza

·         Efeitos físicos
- Abuso de álcool ou drogas
- Alterações cardiovasculares (aumento ou diminuição da frequência cardíaca)
- Arrepios
- Excitação, estado de alerta e hiperatividade
- Fadiga
- Fraqueza
- Insônia
- Perda da energia sexual
- Perda do apetite (ou alimentação compulsiva)
- Problemas de saúde (somatizações como, por exemplo dor de cabeça, desconfortos gástricos, diarreia, dor de estomago, náusea, etc).
- Tonturas
- Transpiração intensa
- Tremores

·         Efeitos interpessoais
- Conflitos de relacionamento sociais
- Isolamento
- Perturbações familiares
- Prejuízo do desempenho profissional
- Recusa de seguir regras ou ordens

Tipos de trauma e quando recorrer a um tratamento
Geralmente o trauma envolve o efeito – surpresa e o desamparo diante de uma ameaça física ou subjetiva a própria vida, ou a vida de pessoas amadas. Entre os traumas mais frequentes das pessoas que buscam psicoterapia podem- se citar:

·         Perdas de entes queridos (especialmente familiares)
·         Abortos
·         Acidentes
·         Separação conjugal (infidelidade, conflitos, etc)
·         Assalto
·         Sequestro (com cativeiro, relâmpago, domiciliar)
·         Violência sexual
·         Decepções (quebra de confiança, enganos, etc)
·         Mudanças drásticas de vida (cirurgias, enfermidades, perda de emprego etc.)
·         Testemunho ou sofrimento pessoal de violência
·         Conflitos familiares (discussões graves, brigas etc)

Deve – se recorrer á psicoterapia quando o sofrimento for expressivo a ponto de limitar a vida diária, ou quando perdurarem sintomas como memorias recorrentes do trauma, distanciamento afetivo, pensamentos indesejáveis, insônia e irritação.
Cada vez que contamos e recontamos uma história estamos inserindo novos elementos cognitivos e a modificando. A psicoterapia direciona essa “conversa orientada” no sentido da superação. As pessoas que não têm acesso a psicoterapia devem falar com familiares, amigos, religiosos (respeitando seus sistemas de crenças) confiáveis, que possam simplesmente ouvir num primeiro momento. Em seguida, é importante que a conversa tenha uma orientação ao aprendizado e á superação da dificuldade.





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