segunda-feira, 10 de março de 2014

COMO ANDA SUA AUTOCONFIANÇA?


"A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio."
Carlos Drummond de Andrade

A confiança é um sentimento básico do ser humano, é o cimento que constrói os relacionamentos, sejam amorosos, familiares, profissionais ou de amizade. Sem a confiança, um relacionamento pode até existir, mas de forma superficial e com cobranças e ressentimentos. Seu oposto, a desconfiança, é um entrave real a qualquer tipo de relacionamento e nos isola. Se nos relacionamentos a confiança no outro é imperativa, em todas as situações da vida (mesmo nos relacionamentos), a confiança em si mesmo é condição necessária para a ação.

Nós, seres humanos, temos a capacidade de pensar, de sentir e de agir. Para agir, precisamos ter desenvolvido a confiança em nós mesmos, e na ajuda do outro que podemos precisar se cairmos. A confiança desenvolve no primeiro setênio, entre o nascimento e os 7 anos, a fase em que somos mais dependentes do cuidado dos outros, sejam pai, mãe, avós, babá, irmãos mais velhos. É esta dependência, este estar aberto a ser cuidado, que permitirá o desenvolvimento da confiança no outro que levaremos para a vida.

Cultivando confiança

Se recebemos cuidados atenciosos, calor, proteção, a confiança no outro florescerá com força. E esta confiança assim cultivada permitirá discriminar quando a ação do outro é sincera ou não, quando podemos depositar nossa confiança em alguém ou não. Se, contudo, fomos deixados de lado por quem deveria ter cuidado de nós, ou se fomos cuidados de forma mecânica, sem o carinho e o calor que o cuidar de uma criança pequena exige, essa confiança fenecerá, morrerá antes mesmo de crescer, se atrofiará.

Assim também se dá com a autoconfiança. Desde o nascimento, vamos criando as possibilidades físicas para subverter a lei da gravidade e ficarmos eretos, de pé, e andar com nossas próprias pernas. Logo cedo firmamos o pescoço e podemos girar a cabeça para um lado e para o outro, depois firmamos os braços e o tronco, o que amplia essa elevação de nosso campo de visão, além de permitir que o neném se arraste pelo chão. Essa força alcança as pernas e cintura, assim logo estamos engatinhando, ágil e rapidamente, conquistando o mundo ao nosso redor. Esta força nos leva a segurar nos objetos que encontramos e a nos levantarmos, conquistando a posição vertical, para logo depois começarmos a andar. É claro que este processo envolve muitas tentativas e erros- e o erro é cair no chão.



Caindo para depois levantar

O que acontece se os pais não permitem que a criança brinque no chão, por medo de germes? Ou quando o neném é "presenteado" com um andador? Ou quando a criança fica sob o olhar obsessivo dos pais para nunca cair? No desenvolvimento de nossas biografias, esta possibilidade de cair e levantar e a confiança de que alguém pode ajudá-lo se você cair, reaparece em outro contexto logo que nos tornamos adultos, por volta de 21 anos. Entramos numa fase de muitas experimentações, mergulhamos de cabeça no mercado de trabalho (muitos até antes disso) e quebramos a cara muitas vezes, caímos e levantamos, às vezes sozinhos, às vezes pedindo ajuda. E é através dessas experimentações que aprendemos habilidades novas, desenvolvemos nossos potenciais criativos que nos acompanharão pelo resto da vida.

Mas se, quando bebê, você não pôde cair e levantar, se você ficava no berço ou no cercadinho, para não ter contato com germes ou não se machucar se caísse, você provavelmente não terá desenvolvido a confiança em sua capacidade de errar e depois acertar, de cair e levantar. Se você ficou num andador, correndo pela casa sem precisar fazer esforço, de forma totalmente artificial, como será quando você encontrar obstáculos na sua vida adulta que requerem persistência e determinação, aquela força de vontade que você deveria ter cultivado fazendo força enquanto segurava no sofá para levantar-se quando era um neném? E se, a menor ameça de que você vai cair enquanto aprende a andar, aparece uma mão adulta e forte, que impede que você conheça a dureza do chão, como você reagirá ao ser demitido do primeiro emprego ou ao tomar um fora daquele namorado que você pensou que fosse o homem da sua vida? O sentimento de dureza do chão certamente será muito amplificado para quem nunca pôde experimentá-lo.

Nossas experiências na primeira infância permitirão nosso desenvolvimento nos primeiros momentos de nossa vida adulta. Isto não é algo imutável, contudo. Com força de vontade podemos mudar esta determinação e transformar nossas vidas. Assim, se você percebe que lhe falta autoconfiança, procure saber como foi seu processo de começar a andar. Crie para si mesmo, a partir desta compreensão, as condições para desenvolver a autoconfiança. Se cada vez que quebra a cara você pensa em desistir, tenha a disciplina de persistir e tentar mais uma vez (só precisa ter cuidado para ver se isso não é um padrão de comportamento), caia e levante-se. Se precisar de ajuda, busque uma terapia ou um grupo de ajuda mútua.

Aprenda a confiar em si e nos outros, e perceba como suas ações e seus relacionamentos mudarão.



sexta-feira, 7 de março de 2014

O QUE ACONTECE QUANDO SOMOS TRAÍDOS?


(*) Kátia Horpaczky

A traição é, com certeza, um dos maiores dramas sentimentais e talvez o que mais provoca dor no ser humano. Uma das coisas que mais fazem perder a cabeça em um relacionamento é o ciúme acompanhado do medo de ser traído. A traição é devastadora. Destrói o relacionamento e também a auto-estima do traído.

Lidar com a situação de ter sido traído não é fácil. Além da dor, muitas vezes insuportável, a traição nos obriga a tomar decisões que não estavam em nossos planos. Então como lidar com tudo isso?

Homens e mulheres sentem a mesma dor ao serem traídos. O que muda é a forma como resolvem lidar com isso. Hoje, os homens começam a manifestar mais a dor e o sofrimento e buscam auxilio nessa situação. Já as mulheres, segundo a história da trajetória feminina de opressão e discriminação, se  fortaleceram quanto às dores e maus tratos o que pode possibilitar a recuperação da traição em um tempo menor do que os homens.

Diante da constatação da traição, vale a pena, antes de tomar uma medida precipitada, de ter uma crise nervosa, conversar com o parceiro e esclarecer toda a situação. Se a traição aconteceu, é porque a relação não vai bem.

Se você foi traído não deve sentir culpa nesse momento ou colocar-se como vítima. O mais importante agora é descobrir o que levou seu companheiro a agir dessa maneira. Escute o que o outro tem a dizer e faça uma avaliação da situação: vale a pena ou não levar esse relacionamento adiante? É preciso agir de forma mais sábia. Não é para se fazer de bom samaritano, aquele que tudo entende tudo compreende e aceitar que lhe façam de gato e sapato. Essa atitude também não ajuda em nada, muito pelo contrário, toda a raiva e mágoa represada acabam por prejudicar.

Pela complexidade e polêmica que a infidelidade provoca, existem alguns mitos sem fundamento. Um deles é o de que a maioria das traições destrói os casamentos. De acordo com a pesquisa de Miriam Goldenberg, cerca de 30% dos traídos terminaram a relação. O resultado revela que uma maioria de homens e mulheres briga, chora, fala mal, faz escândalo, arruma as malas, vai embora, mas depois de passado esse momento, procura esquecer o que passou. O maior obstáculo nesses casos é conseguir ultrapassar o choque inicial.
Pesquisa feita nos EUA e no Brasil aponta que 70% dos casais vivenciaram ao menos um caso extraconjugal e 90% não se separaram. E 35% dos traídos terminam a relação, ou seja: mais da metade procura manter o casamento mesmo assim.

 É possível perdoar uma traição dentro do relacionamento?

A traição rompe o trato com a confiança e enfraquece qualquer vínculo. Um relacionamento que sobrevive a uma traição muda de formato porque a relação não é mais a mesma e nem os parceiros são os mesmos.

Pra que serve o perdão? O perdão oferece a possibilidade de conseguir liberdade e alívio. Quando perdoamos e somos perdoados nossas vidas sempre se transformam. As doces promessas do perdão são mantidas. E começamos uma nova relação conosco e com o mundo. Perdoar só precisa de uma mudança na percepção, outra maneira de ver as pessoas e as circunstâncias que nos causam dor e sofrimento.

É muito difícil perdoar uma traição. Perdoar ou não depende de cada pessoa ou do tipo de relação que existe. Caso a decisão seja por perdoar e continuar a relação, não relembre o assunto a cada discussão. Usar a traição sempre como arma em outras discussões só trará estresse e desgaste para a relação. Perdoar é esquecer.
Se não houve esquecimento, não houve perdão. Então, o melhor a fazer é terminar o relacionamento.

Mas se você optou por perdoar, continuar em frente, muitas vezes a relação precisa passar por uma avaliação, uma repaginação, novos contratos terão de ser feitos, nesse caso se vocês acharem que não conseguirão isso sozinho, não hesitem, busquem auxilio profissional. Acompanhe o depoimento de quem já enfrentou a traição do companheiro.
“A dor da traição é muito grande. Os sentimentos de amor e ódio se misturam”.
“Quando amamos uma pessoa verdadeiramente, a traição é como uma facada no peito e nas costas. A dor é insuportável. E o pior de tudo, é que demora para passar e esquecer”
“Quando desconfiei que algo de errado estava acontecendo em minha relação (de 3 anos) tentei conversar, mas a pessoa que estava comigo, sempre mudava de assunto e dizia que não tinha nada a ver o que eu estava pensando. Até que comecei a prestar mais atenção nas coisas que fazia. Conversava com a outra pela internet, na sala de bate papo, dizia que iria sair para resolver problemas de trabalho, quando na realidade, ia ao motel com a outra, entre outras situações que acabei, infelizmente, presenciando”.
“Quando a bomba estourou, foi uma decepção muito grande em primeiro lugar, depois, senti que os meus sentimentos se misturavam; sentia que amava, mas sentia um ódio inexplicável, devido a tantas mentiras. Tive vontade de bater na cara, mas não tive coragem. O que mais me deixou inconformada, é que eu tentei sempre conversar e a pessoa nunca teve coragem de abrir o jogo e o que era pior, por uma amiga que costumava freqüentar a casa Tentei perdoar, mas a mágoa que ficou foi muito maior. Não consegui ficar mais junto a essa pessoa, pois, não confiava mais”.
“Não acredito que conseguiria ficar ao lado de uma pessoa que já me traiu. Por isso, das relações que tive, quase todas terminaram por traição, em nenhuma delas retornei a relação, pois, não acredito numa relação sadia depois de um ato como esse”.
“Eu acho que ninguém perdoa sem ter alguma muleta para se escorar. É difícil engolir que o cara que você gosta trepou com outra. Não estou julgando ninguém, mas acho que quem perdoa é porque tem interesses que se sobrepõem aos sentimentos”.

(*) Kátia Horpaczky
Psicóloga Clinica, Psicoterapeuta Sexual, Família e Casal.
Contatos: katia@rodadavida.com.br
www.rodadavida.com.br