quinta-feira, 29 de maio de 2014

RESILIÊNCIA

Resiliência: a capacidade de enfrentar os problemas.

“O problema não é o problema.
O problema é sua atitude com relação ao problema.”
(Kelly Young)


(*) Katia Horpaczky

Você conhece esta palavra? Ela significa, entre outras definições do dicionário, poder de recuperação.


Mas o termo do momento aplicado à gestão é "resiliência". Outro conceito deslocado da física, esse nomeia a propriedade de alguns materiais de acumular energia, quando exigidos e estressados, e voltar ao seu estado original sem qualquer deformação. Pois é: vem contando pontos como competência humana a habilidade do elástico, ou da vara do salto em altura —aquela que enverga no limite máximo sem quebrar, volta com tudo e lança o atleta para o alto.

As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos e conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de resiliência. Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia potencial armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão incidente sobre o mesmo.

Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal, profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de cada limão, ou seja, de cada contrariedade que a vida nos apresenta, uma limonada, saborosa, refrescante e agradável.

A resiliência é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. O termo vem de uma propriedade da Física sobre a capacidade que os corpos têm de voltar à sua forma original, depois de submetidos a um esforço intenso. Fazer a simples transposição da Física para a Psicologia não é possível porque, aplicado aos seres humanos, o conceito se destaca exatamente pela capacidade do indivíduo dar a volta por cima das situações de risco e voltar TRANSFORMADO, crescendo com a experiência.”.

Ambas foram e são empregadas pelos profissionais que atuam em gestão empresarial.
Agora surge resiliência, palavra também advinda da física, que significa a propriedade de alguns materiais de acumular energia e dispendê-la sem sofrer qualquer deformação. É o caso do elástico e da vara do salto em altura.
Do ponto de vista de gestão de recursos humanos, algumas empresas utilizam este termo ao pé da letra e exigem que a pessoa “resiliente” tenha energia suficiente para não adoecer ou não se estressar. Esquecem-se que, como o elástico ou a vara do salto em altura, ela tem um limite que, quando superado, rompe-se.
No caso do ser humano, este limite chama-se viver as suas emoções. E, para que alguém possa viver suas emoções no trabalho, é preciso respeito à dignidade e reconhecimento pelo que se faz. É preciso que as regras sejam claras e que as idéias sejam compartilhadas e comunicadas adequadamente.

A VANTAGEM, SE EXISTE ALGUMA, EM ESTAR NO FUNDO DO POÇO É QUE QUALQUER MOVIMENTO LEVA-NOS PARA CIMA - Frase de Donald Trump


Dicas para aumentar a capacidade de resiliência:
  • Mentalizar seu projeto de vida, mesmo que não possa ser colocado em prática imediatamente. Sonhar com seu projeto é confortante e reduz a ansiedade
  • Aprender e adotar métodos práticos de relaxamento e meditação
  • Praticar esporte para aumentar o ânimo e a disposição. Os exercícios aumentam endorfinas e testosterona que, conseqüentemente, proporcionam sensação de bem-estar
  • Procurar manter o lar em harmonia, pois este é o "ponto de apoio para recuperar-se"
  • Aproveitar parte do tempo para ampliar os conhecimentos, pois isso aumenta a autoconfiança
  • Transformar-se em um otimista incurável, visualizando sempre um futuro bom
  • Assumir riscos (ter coragem)
  • Tornar-se um "sobrevivente" repleto de recursos no mercado profissional
  • Apurar o senso de humor (desarmar os pessimistas)
  • Separar bem quem você é e o que faz
  • Usar a criatividade para quebrar a rotina
  • Examinar e refletir sobre a sua relação com o dinheiro
  • Permitir-se sentir dor, recuar e, às vezes, enfraquecer, para em seguida retornar ao estado original

(*) Katia Horpaczky é Psicóloga Clinica e Organizacional, Psicoterapeuta Sexual, Familia e Casal, Especialista em Workshops Vivenciais e  Jogos Organizacionais, Arte-Terapeuta, Practitioner em N.L.P. pelo Southern Institute of N.L.P. e pela Society of Neuro Linguistic Programming. Treinada com a metodologia de OUT DOOR TRAINING pela Dinsmore
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Tel: (11) 5573-6979



segunda-feira, 26 de maio de 2014

TOLERÂNCIA

“A responsabilidade da tolerância está com os que têm a visão mais ampla.” George Eliot

(*) Katia Horpaczky

Você é tolerante? O que significa tolerância para você? A palavra tolerância provem do latim tolerantia, que por sua vez procede de tolero, e significa suportar um peso ou a constância em suportar algo. Teve no passado, e com sentido negativo, a função de designar as atitudes permissivas por parte das autoridades diante de atitudes sociais impróprias ou erradas. Nos dias de hoje, pode ser considerada uma virtude e se apresenta como algo positivo. É uma atitude social ou até mesmo individual que nos leva não somente a reconhecer nos demais o direito a ter opiniões diferentes, mas também de as difundir e manifestar pública ou privadamente. Tolerância é uma das tantas virtudes , necessárias para elevar o ser humano à condição de civilidade. Como virtude faz parte do processo de desenvolvimento ético de indivíduos e grupos, cuja meta é manter a "disposição firme e constante para praticar o bem". 

Um breve levantamento histórico diz que a palavra tolerância foi "parida" nos conflitos religiosos, no séc. 16, na época das guerras religiosas entre católicos e protestantes. André Lalande (Vocabulário técnico e crítico de filosofia. SP: M. Fontes, 1993), conta  que "os católicos acabaram por tolerar os protestantes,  e reciprocamente. Depois foi reclamada a tolerância em face de todas as religiões e de todas às crenças". A partir do século 19, a tolerância estendeu-se ao livre pensamento e, no século 20, passou a ser acordo internacional com intenção de ser exercitada, através da Carta aos Direitos Humanos em 1948, também através de algumas ONGs e de governos não totalitários.

Proponho aqui um importante questionamento: a tolerância deve ter limites ou não?
Nossas limitações são patentes. Não somos o que queremos, não fazemos tudo que sonhamos, não temos o dom de estar onde desejamos. Dentro destes limites é que nos movemos. Conhecer os limites pessoais e os dos outros - pois somos seres que não se repetem - é uma tarefa que dura toda a vida. O limite também não é algo estático, as pessoas mudam. Logo, o sistema de comunicação entre as pessoas é algo dinâmico e tem suas "leis" próprias, que cabe a cada um descobrir em cada momento. Em vez de gastar tempo reclamando que não existe comunicação, poderemos começar agora a empregar a comunicação e assim darmos uma nova dinâmica nas nossas relações e também estabelecermos novas relações.
Não ter tolerância com qualquer tipo de erro, de certa forma ajuda a resgatar o que é próprio da personalidade humana: participação, unicidade, autonomia, protagonismo, liberdade, responsabilidade, consciência, silêncio, provisoriedade e religião. Höffner (1983).

(*) Kátia Horpaczky
Psicóloga Clinica, Psicoterapeuta Sexual, Família e Casal
Contatos: katia@rodadavida.com.br
www.rodadavida.com.br





sexta-feira, 16 de maio de 2014

CORAGEM VERSUS MEDO



O diálogo entre o medo e a coragem está presente em muitas expressões artísticas, como pinturas, esculturas e peças literárias, que retratam assertivamente a coexistência entre essas duas aparentes polaridades. A despeito da crença de que uma condição exclui a outra permanecer predominante ao senso comum, a coragem não tem um significado único e envolve vários aspectos, assim como o medo. Em outras palavras, se você tem medo, isso não significa que você não tenha coragem, ou vice-versa.

O medo exacerbado é comum em pessoas que atravessaram eventos estressores que perturbaram o curso natural de suas vidas e preenchem os critérios diagnósticos de certos transtornos como TEPT, fobias especificas, pânico, depressão, entre outros. A tendência de superestimar o impacto subjetivo de um evento aversivo também é um fenômeno psicológico comum em pessoas saudáveis. O medo, em grande parte, está relacionado a sobrevivência. Vale lembrar que uma síndrome rara de calcificação da amigdala (relacionada a detecção de situações perigosas, assim como a expressão do medo) torna o indivíduo vulnerável a uma morte precoce. O medo protege e não devemos rechaça-lo equivocadamente.

A coragem pode emergir diante de situações que convergem elementos como a presença de riscos e perigos relevantes, ansiedade relacionada a incerteza, duvidas, medo e vulnerabilidade. Contudo, a coragem não deve ser tratada como um desafio ingênuo de exposição ao risco ou uma competição pueril de forças; tampouco deve ser considerada como expressões não analógicas do tipo “tudo ou nada, tenho ou não tenho”. A coragem não é ilimitada e não deve ser um teste irresponsável intra e interpessoal. Não precisamos de heróis mortos, mas “bem vivos” como exemplos saudáveis de superação. O pensador inglês Gilbert Chesterton definiu coragem como “um forte desejo de viver, sob a forma de disposição para morrer”. Infelizmente, muitos associam erroneamente coragem a morte. Contrapondo esse conceito de exposição a morte, o escritor italiano Vittorio Alfieri escreveu, no século XVIII, que “muitas vezes a prova de coragem não é morrer, mas sim viver”, que eu legitimo com a experiência clínica. Outras vezes, em casos de doenças terminais, a coragem se relaciona com a aceitação das limitações e, mesmo assim, lidar com a doença e a eminencia da morte de maneira serena.

Considero que ser corajoso inclui responsabilidades e integridade alinhadas ao desenvolvimento e a prosperidade pessoa; envolve estar consciente das ameaças e resolver problemas usando discernimento e capacidades para atender as necessidades pessoais e também do entorno. O existencialista Paul Tillich define coragem como um ato ético: o homem afirma seu próprio ser em relação aos elementos de sua existência que entram em conflito com sua autoafirmação essencial. Assim, existir envolve a coragem de ser. Estendendo o conceito da coragem, Tillich escreve também sobre a fé como um estado de potência e aceitação existencial de algo incerto que transcende a experiência ordinária.

O que significa coragem?

Coragem tem em sua etimologia o significado “ato do coração”. Esse conceito pode ser relacionado a várias expressões, como convicção e direcionamento da energia para fazer o certo, força moral ante o perigo, poder para resolução, ânimo, bravura, firmeza, intrepidez, ousadia, constância, perseverança, desembaraço e fraqueza. Expressões literárias traduziram a coragem associada a virtude, como Aristóteles, que a considerou “a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”. Por exemplo, Miguel de Cervantes, em sua obra Dom Quixote, revela a coragem como um esteio da vida, escrevendo: “quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo”. Coragem está também intimamente relacionada com autoestima, vontade, princípios e valores éticos perante a vida.

Diante da adversidade, a coragem e os resultados subsequentes, quando positivos, conferem uma autoimagem satisfatória de dignidade. Contudo, sendo a coragem um alicerce para a manutenção da dignidade moral, se enfraquecida pode desempenhar um papel casual na crítica depreciativa e desmoralização. A coragem é vista pelo senso comum como a virtude dos heróis; e quem não admira os heróis? As pessoas se sentem as vezes desmoralizadas por não terem ainda a coragem suficiente ao enfrentamento. A cultura “somente os mais fortes sobrevivem” pode exercer influencias critica nesse sentido, com autojulgamentos de covardia, fraqueza e incapacidade. Por muitas vezes ouvi de pacientes no início do tratamento frases como “sou um fraco, sinto medo de enfrentar essa situação, eu me sinto incapaz”. Sempre que necessário, ajudo as pessoas a corrigirem essas crenças com algumas reflexões. Em primeiro lugar, não são os mais fortes, mas os que se adaptam melhor, que sobrevivem. 

Portanto, o trabalho terapêutico deve visar recursos de adaptações ao ambiente e as condições atuai. Além disso, o medo não exclui a coragem ao enfrentamento, mas faz parte de processos adaptativos e sem ele não estaríamos aqui. Em outras palavras, a coragem não é a ausência de medo, mas uma superposição a ele  por razões, conhecimentos, valores e valências emocionais mais fortes.

Considero que a coragem sem o medo pode ser uma temeridade. Infelizmente, poucos falam sobre os “atos de coragem” malsucedidos ou reportam aprendizados vindo do insucesso. A coragem liquida (advinda do efeito do álcool) foi estudada em relação a probabilidade de manifestações dos comportamentos sexuais de risco. Os autores do departamento de psicologia da universidade de Washington mostram que o álcool deprecia a censura, e algumas pessoas se sentem mais “sensíveis, alegres, agressivas ou corajosas” quando alcoolizadas. Os comportamentos de extremo risco (como não fazer uso de preservativo com parcerias desconhecidas) estiveram significativamente correlacionados ao grau de embriaguez. Refletindo sobre esses achados, ressalto que o uso do álcool pode favorecer riscos, em parte, pela atenuação ou neutralização do medo e da ansiedade.

Conceitos pragmáticos de coragem como um comportamento de aproximação a despeita da vivencia do temor são usados em estudos científicos. A aproximação pode ser objetiva e/ou subjetiva. Por exemplo, 22 voluntários com fobia de aranha foram estudados quanto a coragem de enfrentamento de seus medos. Os participantes foram submetidos a instrumentos psicológicos que avaliam direta e indiretamente a coragem, assim como a exposição real a quatro tarântulas taxidermizadas (que parecem reais) com o objetivo de aproximar a mão o máximo possível. O estudo, realizado em 2009 pelo departamento de psicologia da universidade de Houston, mostrou que os escores de coragem subjetiva eram significativamente correlacionados as distancias de aproximação das aranhas, isto é, os participantes com maior pontuação de coragem chegaram mais perto das aranhas.

De fato, a coragem é um importante fator para o enfrentamento de temores e adversidades. A chegada ao consultório psicoterápico revela esse passo de coragem e a motivação para vencer a dificuldade. Considerando que a expressão do medo se relaciona diretamente a vulnerabilidade especificas ao que o indivíduo não controla e/ou não conhece, a coragem fortalecerá, durante a psicoterapia, com o conhecimento e controle gradativamente adquiridos. Amparando essa abordagem, os desempenhos sob estresse de profissionais especializados em desarmar bombas e de pessoas sem experiência anterior nessas tarefa foram comparados. Os resultados publicados em 1983 no periódico British Journal of psychology mostram que os especialistas apresentaram menor frequência cardíaca, menor ansiedade e maior controle cognitivo da situação em comparação com os não profissionais, que executaram a mesma tarefa com medo exacerbado e pior desempenho. Os indicadores de coragem foram similares nos dois grupos estudados. Esses achados evidenciam que o conhecimento e o controle da situação estão correlacionados a coragem e também ao melhor desempenho relativo a exposição de riscos importantes.

É possível aprender a ter coragem?

O psicólogo holandês Peter Muris conduziu um interessante estudo que investigou a construção da coragem em crianças entre 8 e 13 anos de idade. Elas foram entrevistadas sobre a ação mais corajosa que já tinha realizado em suas vidas e o nível de medo e de coragem vivenciados durante esses eventos. Os resultados indicaram que quase todas as crianças (94%) tinham realizado uma ação corajosa associados a esses atos variasse consideravelmente. O estudo concluiu que o medo e a coragem em crianças são largamente independentes e, em convergência com o que penso, não constituem, necessariamente, duas faces da mesma moeda.

De fato, todos nós já superamos desafios na infância, adolescência e idade adulta, como dormir em quarto separado dos pais, fazer provas difíceis na escola, aprender a andar de bicicleta ou dirigir, confrontar uma situação desconhecida, entre muitas outras.
A faculdade da generalização permite a construção de aprendizados associativos ao longo desenvolvimento infantil (por exemplo, se consegui subir um degrau da escada, conseguirei subir o segundo, além de vencer outros desafios similares).

A coragem pode ser também reforçada com as lembranças das situações desafiadoras bem – sucedidas e a percepção das estratégias utilizadas para superação desses eventos. A consciência das estratégias adaptativas bem – sucedidas permite o deslocamento destas para situações ainda não superadas. A autodesconfiança e o controle são esteios necessários a coragem para os novos passos em direção ao aprendizado e desenvolvimento pessoal. Assim, a coragem pode ser aprendida e cultivada na psicoterapia a partir do controle gradativo das variáveis temerosas, do conhecimento real das motivações pessoais e do porquê de enfrentar a adversidade.

O medo pode se tornar crônico não só quando o ambiente continua ameaçador, mas quando não ocorre a atualização dos dados seguros que o ambiente agora oferece. Uma vez que as condições do entorno e os eventos traumáticos tenham cessado, uma das ferramentas terapêuticas utilizadas em indivíduos com incessantes temores exacerbados é a exposição gradativa para atualização e aprendizado das informações seguras. Durante esse processo, as variáveis devem ser controladas, tanto quanto possível, e o imponderável também deve ser bem vindo. As fases das exposições são terapeuticamente bem escolhidas e delineadas para que não haja frustração. Inicialmente, a exposição imaginaria fortalece as redes neurais para superação; em seguida, a exposição in vivo consolida esse processo de vitória. Priorizar talentos, valores e capacidades, encontrar o significado e as mudanças positivas associadas ao sofrimento , fortalecer o controle e cultivar a motivação para seguir em frente ressignificam a relação com o temor especifico. Portanto, a coragem que se desenvolve na psicoterapia não se relaciona com a audácia ou a temeridade, mas com o conhecimento, a prudência, o animo e a paciência para o enfrentamento bem-sucedido. Algumas lições de casa, como descrever momentos corajosos de sua vida para serem explorados e fortalecidos em psicoterapia, são uteis ao fortalecimento da coragem para o enfrentamento das mais sensíveis vulnerabilidades atuais.

A psicoterapia aplicada as vítimas de trauma psicológico objetiva não só remover o temor e a sensação de extrema vulnerabilidade como também reconstruir as crenças básicas adquiridas na experiência traumática. Como resultado, os pacientes conseguem se desconectar de um passado assustador e deixam de interpretar alguns ou vários estímulos como retorno ao trauma, identificando-se e respondendo adaptativamente ao presente. A ciência psicológica tem dado maior atenção as terapias de exposição imaginaria para a reestruturação cognitiva de eventos passados sob uma nova perspectiva de compreensão e aprendizagem. O componente essencial do tratamento de exposição abrange repetidos confrontos com as memórias do evento estressor (exposição as memorias e imagens traumáticas) para propiciar a reescrita do trauma numa perspectiva de aprendizado e superação. Quando o evento estressor é demasiadamente forte para o indivíduo, o trauma fica “impresso em fragmentos sensoriais e emocionais”, e a terapia então pode ajudar.


terça-feira, 13 de maio de 2014

TRAUMA

Como um acontecimento se transforma em trauma?

A maior parte das reações do organismo perante uma alteração do meio ambiente, mesmo aquelas que causam dor, mal-estar ou sofrimento, têm um princípio adaptativo de proteção e sobrevivência. Por exemplo, a tosse, o vômito e a dor são defesas do organismo: ajudam a expelir um material que se encontra numa via errada, ou um alimento nocivo, ou um corpo estranho como farpa, que poderiam prejudicar o organismo. A ansiedade é um estado emocional comum e provavelmente tenha sido selecionada como um importante fator para a preservação da espécie humana. O estado ansioso é definido como um comportamento de alterações físicas (taquicardia, sudorese, hiperventilação, aumento da pressão arterial) e psíquicas (apreensão, inquietude, alerta). Assim como já dor evoluiu para nos proteger de danos imediatos ou futuros, a ansiedade talvez tenha evoluído para nos proteger contra futuros perigos ou outros tipos de ameaças.
De fato a ansiedade pode variar em intensidade e expressão conforme a importância que se atribui ao risco iminente. Quanto mais ameaçador um evento, maior seria a intensidade de expressão da ansiedade. Como um sinalizador antecipatório de possíveis ameaças ou mesmo diante da ameaça, a ansiedade altera de forma vantajosa o pensamento, a fisiologia e o comportamento humano com ajustes para sobrevivência.
Nossos ancestrais provavelmente tenham antecipado riscos reais durante a caça e a vida diária, exercendo algum controle sobre a incidência de ameaças letais por intermediário da ansiedade. É possível que o superdimensionamento das ameaças tenha sido selecionado como recurso de preservação por estabelecer margens de segurança em relação a avaliação dos perigos reais. Apesar de a ansiedade estar com intensidade e duração exacerbadas, impedindo a continuidade equilibrada da vida. É o caso de boa parte das pessoas que sofreram traumas: um acontecimento se transforma em trauma quando o “sistema é sobrecarregado cronicamente.”

Como o trauma se apresenta?
As lembranças do trauma geralmente estão fragmentas em imagens, sons, odores, sensações físicas (náuseas, tonturas e outras) ou emoções (aversão, nojo, medo, pavor, raiva, tristeza) não integradas a outras memorias autobiográficas. Estímulos relacionados ao evento traumático, específicos e/ ou genéricos, podem reavivar as memórias que retornam muito mais fortes que uma simples recordação, com nitidez visual e forte expressão emocional, provocando a revivescência do evento traumático.
Eventos traumáticos podem afetar o funcionamento cognitivo, a saúde física e as relações interpessoais. A seguir, as reações mais frequentes (isoladas ou conjuntas) após o trauma.


·         Efeitos cognitivos
- Confusão Mental
- Desorientação temporal (cronológica).
- Dificuldade de concentração e de tomada de decisão
- Dificuldade de expressar pensamentos
- Estreitamento perceptual
- Incredulidade e descrença
- Pensamentos intrusivos (indesejados)
- Perturbações de memória.
- Pesadelos
- Preocupações exacerbadas

·         Efeitos emocionais
- Amortecimento e anestesiamento
- Ansiedade
- Apreensão
- Culpa
- Desamparo
- Desesperança
- Desespero
- Irritabilidade
- Negação
- Pânico
- Raiva
- Tristeza

·         Efeitos físicos
- Abuso de álcool ou drogas
- Alterações cardiovasculares (aumento ou diminuição da frequência cardíaca)
- Arrepios
- Excitação, estado de alerta e hiperatividade
- Fadiga
- Fraqueza
- Insônia
- Perda da energia sexual
- Perda do apetite (ou alimentação compulsiva)
- Problemas de saúde (somatizações como, por exemplo dor de cabeça, desconfortos gástricos, diarreia, dor de estomago, náusea, etc).
- Tonturas
- Transpiração intensa
- Tremores

·         Efeitos interpessoais
- Conflitos de relacionamento sociais
- Isolamento
- Perturbações familiares
- Prejuízo do desempenho profissional
- Recusa de seguir regras ou ordens

Tipos de trauma e quando recorrer a um tratamento
Geralmente o trauma envolve o efeito – surpresa e o desamparo diante de uma ameaça física ou subjetiva a própria vida, ou a vida de pessoas amadas. Entre os traumas mais frequentes das pessoas que buscam psicoterapia podem- se citar:

·         Perdas de entes queridos (especialmente familiares)
·         Abortos
·         Acidentes
·         Separação conjugal (infidelidade, conflitos, etc)
·         Assalto
·         Sequestro (com cativeiro, relâmpago, domiciliar)
·         Violência sexual
·         Decepções (quebra de confiança, enganos, etc)
·         Mudanças drásticas de vida (cirurgias, enfermidades, perda de emprego etc.)
·         Testemunho ou sofrimento pessoal de violência
·         Conflitos familiares (discussões graves, brigas etc)

Deve – se recorrer á psicoterapia quando o sofrimento for expressivo a ponto de limitar a vida diária, ou quando perdurarem sintomas como memorias recorrentes do trauma, distanciamento afetivo, pensamentos indesejáveis, insônia e irritação.
Cada vez que contamos e recontamos uma história estamos inserindo novos elementos cognitivos e a modificando. A psicoterapia direciona essa “conversa orientada” no sentido da superação. As pessoas que não têm acesso a psicoterapia devem falar com familiares, amigos, religiosos (respeitando seus sistemas de crenças) confiáveis, que possam simplesmente ouvir num primeiro momento. Em seguida, é importante que a conversa tenha uma orientação ao aprendizado e á superação da dificuldade.





sexta-feira, 9 de maio de 2014

Mãe,obrigada!

GRATIDÃO

(*) Katia Horpaczky

Mais um dia das mães se aproxima e todos os anos minha editora pergunta se não vou escrever nada para esse dia. Eu penso escrever sobre o que? Acho que tudo o que tinha de ser dito sobre a mulher, mãe e relação mãe e filhos já foi dito. E mais: como escrever sobre mães se a minha faleceu há muitos anos!

Foi então que pensei que, como eu, existem milhares de pessoas que também estão sem as suas mães e, nesse momento, o primeiro sentimento que me veio foi de saudade e o segundo, bem mais forte, foi o de GRATIDÃO. Pronto. Já tinha o tema para falar sobre as mães.

Resolvi escrever sobre esse sentimento, a gratidão. Quando despertamos interiormente para o sentimento tão nobre da gratidão começamos a sentir gratidão por tudo. É ela que dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã.
Se hoje sou uma mulher realizada, uma profissional bem-sucedida, e um ser humano especial, boa parte é por conta da minha educação, a dedicação da minha mãe e os valores que ela conseguiu me transmitir. Hoje, sou muito grata por tudo o que ela fez por mim. Apesar da saudade sei que ela deu o melhor, se empenhou e, tenho certeza, que hoje ela teria muito orgulho de mim.

A gratidão é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor, etc. A gratidão é uma emoção que envolve um sentimento de dívida emotiva em direção de outra pessoa, freqüentemente acompanhado por um desejo de agradecer e trocar por um favor que fizeram por você.

E as mães são assim. Elas fazem tanto pelos filhos e, na maior parte das vezes, não pensam em recompensa. Elas fazem por amor incondicional. Talvez só quem é mãe saiba o que significa esse sentimento. Dar sem esperar nada em troca. Se você tem a sua mãe ao seu lado aproveite esse momento e agradeça por tudo o que ela fez e o que ainda vai fazer. Faça desse Dia das Mães um momento especial, mais que um comércio de presentes, um momento de verdadeira GRATIDÃO e, talvez, uma oportunidade para você expressar o quanto é grato a essa mulher.


(*) Katia Horpaczky - Psicóloga Clinica, Psicoterapeuta Sexual, Família e Casal.
 katia@rodadavida.com.br  e www.rodadavida.com.br

Tel: 11-5573-6979 - cel.: 9 9234-1498

quinta-feira, 8 de maio de 2014

QUANDO AS FILHAS TORNAM-SE MÃES


Maternidade pode mudar relação de mulheres com suas mães

Chegamos ao mundo extremamente dependentes. Levamos muito tempo para controlar nossos movimentos a ponto de nos tornarmos capazes de sobreviver. Precisamos de meses para caminhar, para nos comunicarmos, para nos protegermos ou nos alimentarmos sozinhos. Quis a natureza, para que pudéssemos desenvolver mais capacidades, que nosso cérebro continuasse a amadurecer após o nascimento, o que nos torna uma espécie muito evoluída, mas paradoxalmente muito dependente ao nascer.

Dessa forma, a presença de um adulto que nos proporcione todos os aprendizados do início da vida não é só romanticamente desejável, mas fundamental para a sobrevivência. Em nossa sociedade esse papel é assumido prioritariamente pela mãe, fato mais que justificável, já que é no corpo dela que somos gerados. E apesar dos pais estarem cada vez mais presentes no início da vida, é geralmente a mãe o primeiro adulto que nos dá colo, afeto, carinho e cuidados. É por isso que nossa relação com ela, ou a ausência dela, nos marca profunda e intensamente.
No início da vida, à medida que passamos a compreender um pouquinho a existência, vivemos uma fase linda de adoração desse ser que nos parece perfeito. Mesmo quem tem uma mãe ausente, também pode criar uma fantasia positiva dela. Exaltamos todas suas qualidades, sua disponibilidade para nós e seus cuidados. A mãe é a nossa salvadora, a que nos deu condição de estarmos vivos. Também pode ser comum acharmos que ela é linda, perfeita, e que está sempre certa. E com o passar dos anos tendemos a transitar entre duas reações extremas: estender ao máximo essa relação de dependência ou nos rebelarmos e fazermos de tudo para sermos autossuficientes.

COMO ENXERGAMOS NOSSAS MÃES AO LONGO DA VIDA?

As filhas "rebeldes" passam a ter cada vez mais autonomia e na adolescência já são capazes de tomar conta do próprio corpo, da alimentação, e gostam de pensar que são totalmente independentes. E nessa fase podem ficar bem críticas em relação àquela que antes era admirada e protegida. Já as filhas mais dependentes se recusam a crescer e demoram muito para se sentirem capazes de assumir a maternidade. Preferem se comportar eternamente como filhas e rejeitam a ideia de um dia serem mães seguras e independentes.
Em qualquer um dos grupos e quaisquer que sejam as características daquela que nos criou, pensamos que a forma de nossas mães exercerem a maternidade nunca está certa. Se a mãe é muito disciplinadora, idealizamos uma mãe companheira e compreensiva. Se ela é amiga e aberta ao diálogo, queremos uma mãe que não se confunda conosco e que não seja lembrada ou requisitada por nossos amigos. Sem consciência de que preparar-se para a vida vai além de sobreviver fisicamente - já que também envolve aspectos psicológicos, mentais e emocionais que requerem muito amadurecimento - é natural que a filha se contraponha, critique e se distancie. Na verdade, ela está procurando seu próprio caminho, seu próprio jeito de ser mulher e de, no futuro, ser mãe.

O DESAFIO DA MATERNIDADE

Então a vida caminha e surge o momento que essa filha se torna mãe. E tenha ela se preparado ou não, esteja pronta ou não, a maternidade será sempre um grande desafio. Porque então chega o momento que nos deparamos com a possibilidade de corrigir tudo aquilo que julgávamos "errado" na maneira de ser de nossas mães. E é quando descobrimos que as decisões que envolvem a maternidade não são nada fáceis.
Ser mãe é muitas vezes exigir demais de si e se sobrecarregar de culpas extremas. Queremos acertar sempre, não errar jamais e temos a pretensão de que existem respostas certas e absolutas quando se trata da criação de filhos. Queremos acreditar nisso e também nos nossos próprios "superpoderes".
Mas quando nos deparamos com a realidade de que somos limitados mortais em nosso caminho de evolução é que finalmente olhamos para nossa mãe com outro olhar. Porque aí não podemos mais fingir que ela ainda é a "super mulher" ou a "super vilã". Temos que olhar pra um ser humano cheio de virtudes e falhas, cheio de certezas e de contradições e enxergar alguém que um dia se permitiu errar. E é justamente por esse motivo que estamos aqui. Então o olhar da filha volta a se enternecer diante daquela figura que, independente de erros e acertos, correu riscos e nos trouxe ao mundo.