(*) Katia Horpaczky
A
Tristeza é uma emoção natural decorrente de uma perda ou mesmo de uma decepção.
Ela também pode prover de um fracasso, um luto ou até mesmo de uma mudança de
casa ou de trabalho, qualquer situação que desperte em nós o sentimento de não
ser amado. As variações da tristeza são: nostalgia, desencorajamento,
consternação e desespero.
O
infortúnio é provocado pela necessidade de submissão a um constrangimento
inelutável, muito semelhante à reação ao luto, uma vez que nada pode ser mudado
neste caso. Impotentes diante da adversidade, o único recurso que nos resta é chorar, ficar com o
coração apertado. O desejo de “não existir mais” é comum em um momento como
este. É preciso destacar, no entanto, que tristeza não é o mesmo que depressão,
já que esta última marca o fracasso do luto, enquanto a tristeza é uma etapa
que assinala o fim do luto.
Observe
que a tristeza permite, ao mesmo tempo, que a pessoa progrida em direção à
aceitação da realidade, bem como reencontrar-se para que possa reconstruir sua
própria identidade. Neste momento, o indivíduo dirige sua energia para seu
interior, valendo permitir-se ser egoísta, ou melhor, egotista, já que se
preocupar com ele mesmo e suas necessidades faz parte do processo. É preciso
deixar os outros se divertirem, não procure segui-los. Talvez esse não seja o momento para você se
expor muito, uma vez que há uma etapa de repouso necessária à reconstrução. Um
período de tristeza é justamente um momento de desinvestimento no exterior e de
investimento em si mesmo.
Nesta
hora, o mais eficaz é encontrar uma pessoa querida e de confiança para chorar
em seus braços e receber o que ela tenha a lhe oferecer. Isto é importante para
a pessoa sentir-se compreendida em seu sofrimento e amparada. O reconhecimento
e a aceitação evitam, por sua vez, que o indivíduo se desvalorize ou volte-se
contra suas emoções. Desta forma, apesar
do natural “cansaço” que uma tristeza naturalmente gere, você tende a se sentir mais consolado do que
vazio, mais protegido, menos vulnerável, mais preparado para lidar com suas
emoções. E lembre-se: até mesmo a
tristeza profunda está sujeita ao raio de um luminoso riso.
Depressão Branca: a depressão silenciosa
Paradoxalmente,
uma verdadeira depressão pode passar despercebida. O sentimento de desespero
pode se dissimular sob um sintoma físico, pela absorção pelo trabalho ou
dependência conjugal. Neste caso, a depressão vem e se instala, tornando-se
parte integrante do nosso ser. Não a vemos nem a sentimos, mas ela está lá. É a
chamada “depressão branca”, em oposição à depressão “barulhenta”, chamada ainda
de “depressão nervosa” na linguagem comum.
Como
reconhecê-la? Fisicamente, o rosto fica pouco expressivo, deserto de emoções
tanto positivas como negativas. Além disto, este tipo de depressão bloqueia
todo tipo de relações. Seu pensamento é chamado operatório, ou seja, concreto e
sobretudo útil, pois pode-se ficar absorvido nas tarefas intelectuais mais
complexas, resolvê-las, mas não se é levado pelo sonho, pela criatividade. O
imaginário fica estagnado, opaco. Assim, as atividades são executadas
mecanicamente, sem grande motivação e empenho.
O Diagnóstico da Depressão
Segundo
o DSM IV (Manuel diagnostique et
statistique des troubles mentaux), é necessário pelo menos apresentar cinco
sintomas dos citados na seqüência - quase todos no mínimo por duas semanas -
para a depressão ser diagnosticada:
Humor
triste, depressivo, que persiste durante todo o dia, por muitos dias;
Perda
de apetite, bulimia ou modificação significativa do peso;
Insônia
ou excesso de sono, despertares noturnos ou precoces;
Agitação
ou lentidão psicomotora;
Perda
de interesse ou de prazer pelas atividades habituais, além de baixa atividade
sexual;
Perda
de energia, fadiga;
Sentimento
de indignidade, auto-acusação, culpabilidade excessiva e/ou desapropriada,
pessimismo, tendência a ver tudo negativamente, desvalorização;
Diminuição
da aptidão para pensar ou se concentrar;
Pensamentos
de morte, idéias suicidas.
O Beneficio da Depressão: evitar a cólera
Quando
a expressão do ressentimento, da raiva ou mesmo da cólera é muito ameaçadora,
os sentimentos agressivos se voltam contra a pessoa. De fato, se o depressivo
não tem mais energia, ele a utiliza contra si próprio, mobilizando–se com o
intuito de reprimir as emoções indesejáveis, tais como raiva, frustração, dor,
decepção, entre outros. A pessoa teme dar vazão à raiva, destruir tudo e ter de
arcar com as conseqüências de sua “explosão”. Na depressão “barulhenta”, o
sofrimento se faz através de acusação: “Está vendo como você me faz mal”.
Depressões Sazonais e de Aniversários
As
depressões sazonais ou de aniversários podem ter causas psíquicas. São reações
anuais a lutos não resolvidos. Geralmente os sentimentos experimentados não são
reativos a nenhum acontecimento de hoje, mas são elásticos de emoções não
resolvidas no passado.
Na
verdade, as causas da depressão geralmente devem ser buscadas no passado, seja
qual for a idade em que elas explodem. Ninguém fica com depressão porque o
chefe é muito severo, porque a namorada ou o namorado nos deixou, porque
perdemos o emprego ou porque nos divorciamos. As separações, perdas, estresse,
por mais dolorosos que possam ser, só desencadeiam uma depressão se a pessoa já
possui um terreno fértil depressivo, o que remete a uma falha profunda na
auto-estima.
Todos
nós vivemos momentos de depressão, reativos ou não a um acontecimento
particular. A depressão é mais do que um tempo de aborrecimento, é um estado
que se instala e que pode durar meses ou anos.
De
maneira geral, a cura da depressão passa pela redescoberta de suas emoções
profundas, da compreensão da origem do estar contra si mesmo, dos afetos
dolorosos da infância, da restauração da auto-estima e do aprendizado da
expressão da cólera.
Curiosidade
A raiz latina, strig,
remete à idéia de apertar e districtus,
apertado por todo lado. No latim vulgar, Districtum
deu lugar à districtia, que significa estreiteza. Daí chegou-se à
tristeza. No francês antigo, a palavra significava ao mesmo tempo passagem
estreita, senso moral, severidade e constrangimento judiciário. Depois a
expressão adquiriu o sentido de situação desesperada.
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(*) Katia Horpaczky
Psicóloga clinica
CRP 06-41.454-3
Tel: 11 5573-6979
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